Junho é a melhor época para o turismo cultural em Cusco. Esse mês traz muitas comemorações, mas o Corpus Christi talvez seja a mais especial de todas. Nessa procissão, milhares de cusqueños se unem para homenagear seus quinze santos padroeiros, vestindo-os com seus melhores trajes para carregá-los pela cidade.
Esse é o festival vivo mais antigo da América, com mais de 450 anos de história católica e muita herança pré-hispânica. Na Illapa Culturas Andinas, teremos o maior orgulho de guiá-lo por uma de nossas festividades favoritas.
Se o Corpus Christi mantém seu esplendor, é graças aos milhares de cusqueños que são devotos de seus santos. Há 15 estátuas gigantescas de santos e virgens, cada uma coberta com trajes luxuosos, joias, flores e prataria. No primeiro dia da procissão, elas são carregadas de suas paróquias até a Catedral de Cusco, juntamente com músicos e muitos fiéis.
Diz-se que nas noites em que passam juntos na Catedral, os santos conversam entre si. O segundo dia é o dia principal, quando os santos saem um a um para caminhar pela praça principal de Cusco e retornam à Catedral na seguinte ordem:
Nossa Senhora da Imaculada Conceição (Catedral Basílica)
O principal organizador do Corpus Christi é o próprio povo de Cusco. Cada santo tem um "Mayordomo" ou "Carguyoq" que se sacrifica por sua paróquia a fim de cobrir todas as despesas da festa. Eles procuram pessoas para ajudar com roupas, comida, música, etc.
Entretanto, o povo de Cusco é generoso por natureza, especialmente quando se trata de honrar seus deuses, o que é seu maior orgulho. E os santos também não abandonam seus fiéis, pois é de conhecimento popular que tudo o que é dado com bondade, a vida devolve em dez vezes.
Assim, o povo de Cusco renova o Corpus Christi todos os anos, mas sempre respeitando as tradições. Por exemplo, a corrida entre San Jerónimo e San Sebastián para ver qual grupo chega primeiro ao centro da cidade é uma tradição. E assim, cada santo e cada virgem tem sua própria idiossincrasia e sua própria história.
A Virgem de Belén é conhecida como a mais luxuosa e elegante, que tem não apenas um, mas dois trajes que ela troca durante toda a festa. San Cristóbal, por outro lado, é temido nas procissões porque seus portadores andam descuidadamente, anos atrás até bêbados, de modo que colidem com as pessoas nas ruas.
Corpus Christi não é como qualquer outro dia de festa católica; é, em sua essência, um festival distintamente indígena que mostra a fé inabalável do povo peruano. Muitas das crenças e práticas religiosas indígenas foram adaptadas ao catolicismo, o que lhes permitiu sobreviver sob o domínio espanhol.
Acredita-se que a tradição de desfilar os santos vem do Império Inca, quando cada família real ou "panaca" desfilava as múmias de seus ancestrais com roupas luxuosas, flores e metais preciosos.
Outro patrimônio indígena de Corpus Christi é o chiri uchu, um prato famoso que só é consumido nessas datas. Esse prato tem origem nas grandes festas do Império Inca, às quais compareciam milhares de pessoas dos quatro Suyos. Esse conglomerado de culturas levou à troca e à combinação de alimentos muito diferentes.
É por isso que em nosso chiri uchu servimos vários tipos de carne, como porquinho-da-índia, frango, charqui ou carne seca, chouriço e morcela, acompanhados de ovas de peixe, algas marinhas, milho assado, queijo, rocoto e torrejas feitas de milho e abóbora. Diz-se que o segredo do chiri uchu está na combinação de sabores, pois não há nada de especial nos ingredientes separados.
O Corpus Christi é realmente uma festa mágica que tem suas raízes na identidade quíchua do povo de Cusco. Desde o início, a nobreza indígena convertida ao catolicismo tem participado com seus trajes incas e suas tradições religiosas.
Hoje, o povo de Cusco continua a comparecer com seus trajes tradicionais, levando oferendas e instrumentos andinos e falando quíchua nas cerimônias. O comunitarismo andino também está vivo nos grupos de devotos e portadores de cada santo ou virgem, cujas paróquias ainda estão localizadas nos antigos wakas sagrados.
A devoção católica é, em última análise, um veículo para manter a fé andina, que tem sido renovada ano após ano por mais de 450 anos.